Recife, 01-12-2021

Atualizado no dia 19-10-25

Prezado existencial,

Diante dos avanços cada vez mais céleres da tecnociência, das TICs, das superinteligências autônomas dotadas de linguagem e da implementação das realidades aumentadas, podemos testemunhar, diante dos nossos olhos, a consumação da técnica já pensada muito antes de Heidegger.

Diante desse cenário — e, sobretudo, diante da proposta do metaverso —, quero dizer: — EU DECLINAREI!

Certamente, em um futuro muito próximo, grande parte da humanidade estará confinada em seus espaços híbridos, encapsulada e, no entanto, albergada virtualmente por espaços paralelos (realidade aumentada).

A existência e a experiência ainda humanamente vividas, no ente ainda corpóreo, transcenderão a existência corpórea e, desse modo, regerão — como agora já se faz — os nossos destinos.

Fatalmente, já nos encontramos sob sua tutela de uma maneira tão profundamente essencial que não percebemos o quanto já estamos “adestrados”.

No entanto, A quadratura se manterá no espaço pré-metaverso, apenas e enquanto for possível, nesta ante-sala habitar.

Para vós que desejais habitar A quadratura, quando tomados por uma nostalgia — como aquela sensação de pertencimento; para vós que, saudosos, quereis presenciar o envelhecer enrugado da minha face; para vós que, convocados, desejais continuar caminhando comigo como aquela ponte existencial e companheiro de caminhada no pensar ontológico-hermenêutico-fenomenológico, digo-vos: — estarei às margens do metaverso e de seus desdobramentos. Me encontrem fora!

Sempre haverá alternativa para o nosso habitar.

Que fique claro!

Para aqueles que me acusarem de ser tecnofóbico, deixo-lhes minha preocupação: não! Não sou tecnofóbico e, no entanto, cuido, enquanto antever, para que eu mesmo não seja queimado pelo fogo dado aos homens por Prometeu¹. Sou essencialmente cuidado (Sorge). Sendo no modo do cuidado, já me abandonei “linguageiramente” naquilo que me requisita, enquanto me mantenho na ausculta do sentido como nos ensina o mestre Heráclito no seu fragmento 50. De igual modo me mantenho inquieto acerca da pergunta colocada por Heidegger acerca do sentido de ser em geral.

Esta questão ainda está esquecida.

Juntamente com essa questão, “a visão” — sobretudo aquela fenomenológica, sem a qual jamais poderia perscrutar tais movimentos pós-modernos. Tais “vidências” não são compatíveis com o excessivo modo de ser da tecnicidade.

A tecnicidade, em sua avançabilidade, já se instalou propriamente como o esquecimento do Ser e a consumação tardia da metafísica. No esquecimento do Ser, somos os esquecidos do Ser.

Diante do que expus, tornar-me-ei a ponte existencial no âmbito da cabana, e lá, certamente, serei quem, na margem do esquecimento, vos convida a rememorar o nosso belo passado.

Espero ser-com (Mitsein) os convocados e ávidos para filosofarmos às margens do metaverso e de seus confins.

Por fim, desejo que o fogo prometeico arda em cada um de vós como chamas interpeladoras daquela primorosa questão, a saber: qual o sentido do Ser? Que essa singela questão não deixe de te apelar como aquela voz da consciência que, em silenciosidade, te conclama a te apropriares de ti.

Com carinho,
Do seu companheiro de jornada,
Kadu

¹ Sobre isso, conferir o meu artigo “A inteligência artificial e os riscos de perda do controle humano”, publicado na Revista Caboré da UFRPE em 2019.

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Sobre o Autor

Kadu
Kadu

Escritor, ensaísta, professor de fenomenologia hermenêutica heideggeriana. Pesquisador independente. Linguagem e técnica são suas vertentes de pesquisa. Formado em rádio e tv com mais de duas décadas dedicadas a comunicação. É criador da quadratura, practitioner em PNL, locutor publicitário, radialista, ator e músico. É palestrante e consultor em comunicação com mais de 32 anos de experiência. E-mail: contato@kadusantos.com.br

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